Robôs mortos.
setembro 17, 2008

Ando em meio à robôs mortos. Deles nada se extrai, nenhum sentimento humano (exceto os já definidos pelos programadores). Vivo através de uma legião de corpos, de comportamentos automáticos. Robôs que nada sentem e que de nada se lembram. São “humanos esquecidos”, enrijecidos, enganados quanto à sua condição. Pensam que vivem, que amam e que pensam. Se perderam através dos tempos, se perderam através dos textos e das imagens.

Vivo em meio à robôs que não se reconhecem, que compram seus sentimentos, suas falsas pílulas de felicidade, e, acreditam assim, ser a expressão mais palpável do divino. Esses robôs preenchem a vida de friza, de sorrisos amarelos e idéias de plástico. Não se reconhecem.

Estão todos mortos, pois não percebem. Inventam outras vidas robóticas, metáforas de um ser humano distante e inequívoco, porém invisível. Almejam, curiosamente, a ser um objeto da sua própria casa: uma mesa, um sofá ou qualquer outro que tenha a eterna companhia da televisão.

A pedra dos livros.
julho 12, 2008

Estava voltando pra casa certa noite, quando percebo que há um buraco na calçada de pedras portuguesas. Fico imaginando como a pedra havia saído dali… Será que alguém tropeçou? É possível alguém tropeçar e arrancar uma pedra, numa calçada daquelas? Ou alguém esforçosamente arrancou? Vai-se saber…

Cheguei em casa, tomei um banho, comi algo e liguei a tv, na penumbra da noite. Fiquei reparando o reflexo da imagem da tv na parede, no sofá… No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o reflexo que fazia na pedra que segurava os meus livros na estante. Me aproximei e vi que a pedra muito se assemelhava às pedras da calçada. Tanto que parecia que voltei com a pedra na mão (ainda de pijamas) pra rua… Minha satisfação só foi plena quando a pedra se encaixou, perfeitamente, no buraco da calçada.

Dois dias depois, passando pela mesma rua, encontro o meu sofá encostado no muro. O meu sofá, ali, do outro lado da rua… O queimado de cigarro denunciava ainda mais que era, de fato, o meu sofá. Certo disso, comecei a trazê-lo para casa, imaginando como ele fora parar ali… Será que tinha alguma relação com a pedra portuguesa? Ou alguém o havia colocado ali? Inerte nos meus pensamentos, tropecei no meio-fio e o sofá caiu na calçada, arrancando uma das pedras.

Voltei para casa com o sofá e a pedra.

(E desde então não assisto mais tv)